Habitar Saudável: multimeios da abordagem socioecológica em projetos de interesse social

Esta proposta parte do pressuposto de que a relação entre o design e a natureza é pouco explorada em projetos de Arquitetura e a ausência da conexão entre esses elementos pode resultar na perda de oportunidades tanto para o projeto, a expressão artística e arquitetônica, quanto para a conscientização ambiental. Portanto, é necessário revisar essa lacuna e buscar formas de integrar os elementos da natureza no processo criativo, utilizando multimeios da abordagem socioecológica em projetos. A problemática aponta para melhorias da condição do habitar saudável, entendido não apenas pela adequação da unidade habitacional, mas sobretudo pela sua inserção urbana, com mobilidade apropriada, acesso a espaços públicos, garantia de áreas verdes, preservação e conforto ambiental, segurança física e social. Este trabalho tem como objetivo desenvolver assessoria técnica participativa para a sede e entorno da Associação e Cooperativa de Agricultores na área rural de Camaçari-BA.

O GEA-hosp se conecta a esse projeto para contribuir com a ampliação do conceito de saúde e sua aplicação no ambiente construído. A partir da compreensão que os ambientes naturais e construídos são constantemente modificados pela ação humana (do mesmo modo que interferem diretamente nos seus comportamentos, sensações e percepções), entende-se que fatores ambientais impactam a saúde coletiva. A partir da 8a Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em 1986 para reestruturar o setor no Brasil, o conceito de saúde deixou de ser associado à ausência de doença e passou a ter
uma conotação ampliada. Assim, a saúde passou a ser uma “resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (Brasil, 1986, p. 4).
 
Desse modo, essa multidimensionalidade do conceito de saúde abrange fatores ambientais e sociais que podem atuar ou não como promotores de saúde e bem- estar em uma comunidade. Soluções sustentáveis que abarcam o paisagismo nos espaços, segundo Bittencourt (2014), não só contribuem para melhorar a qualidade climática e do ar em um edifício, mas geram experiências físicas e psicológicas de conforto que podem afetar diretamente a saúde humana. Compreendendo o espaço de saúde como qualquer espaço de existência humana, Bross (2021) descreve as tendências e expectativas sobre as configurações dos futuros espaços de saúde, ressaltando que “os ambientes internos deverão plasmar seus ocupantes pela arquitetura de interiores e pela integração visual”. Assim, entende-se a importância da promoção da saúde em espaços construídos que integrem a comunidade à natureza, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas. Considerando as características do meio rural em foco, os princípios da agroecologia, como “a arte de observar” a natureza em seus processos de crescimento e equilíbrio dinâmico, nota-se que as condições de saúde também estão presentes no alimento orgânico produzido, nas relações fortalecidas entre a comunidade, no melhoramento do manejo agrícola, na presença da natureza nos espaços construídos, na fluidez do urbanismo planejado, nas construções com saberes e materiais locais, e no habitar saudável. A abordagem socioecológica integra diferentes escalas de projetos, considerando a interdependência dos fatores humanos, físicos e ambientais (Rocha, 2017). Quando aplicada em projetos na escala da edificação e entorno, considera a complexidade na configuração dos espaços, buscando alcançar melhores condições de habitabilidade, sustentabilidade socioeconômica e ambiental. O habitar saudável visa promover a interação saudável entre o ser humano e o ambiente em que convive, incluindo lugares de moradia, trabalho e lazer. A forma como esses espaços são projetados e construídos pode impactar positivamente na saúde e bem-estar dos usuários, proporcionando equilíbrio e harmonia. Nesse sentido, a proposta envolve a consulta a diversos campos de saberes, tais como neuroarquitetura, design biofílico, radiestesia e geobiologia.
O conceito de habitar foi construído por Lefebvre (1973) como o sentido criativo do ato de apropriação inerente à vida humana, por meio do qual o indivíduo, o cidadão, se apropria do espaço para realizar sua vida e, neste ato, constitui-se ele próprio como humano. Já a qualidade saudável se confunde com habitável, ou seja, apresenta condições satisfatórias de higiene, segurança e habitabilidade, com o intuito de evitar danos à saúde dos usuários, bem como a baixa qualidade construtiva e sanitária (Cohen, 2007).